Em nova ofensiva para tentar se aproximar do público evangélico, majoritariamente alinhado ao bolsonarismo, o governo Lula começou a treinar integrantes de igrejas para cadastrar pessoas em situação de vulnerabilidade nos programas sociais.
A iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Social inclui ainda outra frente: técnicos da pasta passaram a auxiliar entidades assistenciais vinculadas às igrejas a registrar projetos para captação de recursos públicos por meio de convênios.
Integrantes das igrejas estão sendo orientados sobre os locais para onde devem encaminhar pessoas em situação de rua, com deficiência, dependentes químicos, mulheres vítimas de violência e ex-detentos que buscam ajuda nos templos. No treinamento, aprendem também como incluí-las no Cadastro Único, porta de acesso a programas como Bolsa Família, Farmácia Popular, Minha Casa, Minha Vida e Luz para Todos.
O outro braço se estende a entidades beneficentes ligadas às igrejas que desejam ter ajuda financeira do governo federal para projetos sociais. Com os convênios, o ministério vende a ideia de uma espécie de “cofinanciamento” para obras como instalação de cozinhas populares e centros de atendimento social. As regras de adesão foram definidas em decreto.
A atuação é um desdobramento de um evento no qual o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, participou no Rio no fim de novembro, com 27 denominações evangélicas, quando foi celebrado um termo de cooperação. Representantes de igrejas como a Universal e a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro, disseram não ter sido convidados. O programa já foi levado também a Mato Grosso, São Paulo, Paraná e Piauí. Dias nega haver restrições.
— A orientação é trabalhar com quem quer trabalhar. Independentemente de quem votou. As igrejas chegam onde ninguém chega. Há uma relação muito além da disputa política e do interesse eleitoral, que é a de redução da pobreza, e vamos precisar de todos os setores que possam ajudar — disse Dias ao GLOBO.
De acordo com o ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já frisou a importância de abrir canais com denominações evangélicas.
— Reconhecemos a importância das igrejas. Os evangélicos podem nos ajudar orientando essas pessoas. O presidente tem chamado atenção que é preciso reconhecer que são milhões de pessoas ligadas ao povo evangélico que têm necessidades e que precisam ser apoiadas por programas sociais.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada neste mês, a reprovação a Lula chega a 38% entre os evangélicos, enquanto fica em 28% no caso dos católicos — na média geral, 30% consideram a gestão “ruim ou péssima”. Em outro evento em dezembro, Lula pediu empenho na aproximação com o segmento:
— Será que estamos falando aquilo que o povo quer ouvir de nós? Ou será que temos que aprender com o povo como é que fala com eles? Como é que a gente chega aos evangélicos? — questionou.
Melhorar comunicação
Dias já foi cobrado pelo Planalto a ampliar a comunicação dos programas sociais geridos pela pasta, que tem um dos maiores orçamentos do governo — R$ 273 bilhões autorizados em 2023. O ministério identificou, por exemplo, que 30% dos 21 milhões de beneficiários do Bolsa Família têm direito ao Auxílio Gás e não sabem.
Na campanha de 2022, Lula chegou a lançar uma carta aos evangélicos buscando superar obstáculos no segmento, mais próximo a Bolsonaro. Já no governo, a Reforma Tributária, promulgada na semana passada, também tem em seu texto um aceno aos evangélicos, ao ampliar a imunidade de impostos a entidades vinculadas às igrejas.
Visitas: 237639
Usuários Online: 1