O senador Flávio Bolsonaro acionou a Procuradoria-Geral da República contra o ministro da Justiça, Flávio Dino, pelas duas visitas da "dama do tráfico amazonense" em sua pasta. Luciane Barbosa Freitas é esposa do Clemilson dos Santos Farias, líder do Comando Vermelho, mais conhecido como Tio Patinhas. O caso foi inicialmente divulgado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e obteve grande repercussão entre parlamentares da oposição.
No acionamento do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o parlamentar afirma que a visita de pessoas associadas ao crime e ao tráfico em um órgão do governo federal é inadmissível. O fato do nome de Luciane não constar na agenda oficial também foi citado por Flávio e insinua que esta prática pode ser um indício de outros encontros com pessoas ligadas ao crime.
"Agendas fechadas, sem registros, em que ninguém sabe o que está sendo discutido, os ocupantes de cargos públicos junto Ministério da Justiça flagrantemente estão violando os princípios da publicidade e da transparência, aliado à circunstância de possível proximidade do Ministro Flávio Dino com líderes de facções criminosas – episódio Complexo da Maré no Rio de Janeiro", diz em trecho.
O episódio no Complexo da Maré ao qual o senador se refere ocorreu em março deste ano. Na ocasião, Flávio Dino esteve na favela carioca para o lançamento de um boletim sobre violência, onde encontrou diversas lideranças locais. À época, a base bolsonarista o acusou de ter "envolvimento com o crime organizado". "Flávio Dino, o ministro que entra na Maré, complexo de favelas mais armado do Rio, com apenas dois carros e sem trocar tiros", escreveu Eduardo Bolsonaro (PL) no X (antigo Twitter) na época.
Além de pedir a investigação dos fatos, Flávio Bolsonaro afirma que a conduta de Dino no episódio de Luciane Barbosa Freitas está em desacordo com os princípios da administração pública e diz que o ministro omitiu propositalmente o nome da mulher do traficante. Neste contexto, solicita o afastamento imediato do aliado de Lula (PT).
Luciane Barbosa de Freitas chegou a ser condenada a dez anos de prisão por desempenhar, segundo o Ministério Público, um papel essencial na ocultação de valores do tráfico. Enquanto o marido coordenava as negociações do crime, Luciane é acusada de ter tido o papel de acobertar, o que fazia adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando empresas laranjas.
Entre elas, a Associação Liberdade do Amazonas, que foi fundada no ano passado com o intuito de defender os direitos dos presos. Contudo, um inquérito sigiloso da Polícia Civil do Amazonas alega que a ONG teria sido criada pelos criminosos para atender suas próprias necessidades e que o papel real seria "perpetuar a existência da facção criminosa e obter capital político para negociações com o Estado".
Entenda o caso
Nessa segunda-feira (13), uma matéria do jornal "O Estado de S.Paulo" revelou que Luciane Barbosa Farias, mais conhecida como a "dama do tráfico amazonense", esteve no Ministério da Justiça em duas agendas com secretários de Dino. Luciane é mulher de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, líder da facção Comando Vermelho no Amazonas, que cumpre 31 anos no presídio de Tefé, no estado. Ela também foi sentenciada a dez anos, mas responde em liberdade.
Com a divulgação, o nome da facção criminosa e o termo "Ministério da Justiça" chegaram aos assuntos mais comentados do X (antigo Twitter), e recebeu o repúdio de políticos como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Sergio Moro (União Brasil-PR).
Em resposta, o ministro da Justiça Flávio Dino (PSB) afirmou que nunca recebeu líderes de facção em seu gabinete. "Nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho. De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que NÃO SE REALIZOU em meu gabinete. Sobre a audiência, em outro local, sem o meu conhecimento ou presença, vejam a história verdadeira no Twitter do Elias Vaz (secretário do ministério). Lendo lá, verificarão que não é o que estão dizendo por conta de vil politicagem", afirmou.
Secretário de Assuntos Legislativos no ministério, Elias Vaz informou que no dia 14 de março recebeu uma solicitação de audiência por parte da ex-deputada estadual Janira Rocha. Dois dias depois, em 16 de março, Janira teria ido à pasta e levado Luciane como sua acompanhante. "Ela se limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário. Repudio qualquer envolvimento abjeto e politiqueiro do meu nome com atividades criminosas", afirmou.
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