Os Estados Unidos apresentaram, nessa terça-feira (24), sua resolução sobre a Guerra Israel x Hamas, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Na semana passada, o país votou contra o projeto elaborado pelo Brasil, que preside o Conselho neste mês, por não mencionar o “direito de Israel de se defender”. A nova moção foi apresentada pelo secretário de Estado, Antony Blinken, acompanhado da embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield.
Blinken disse que a nova resolução americana foi construída sobre diversos elementos do projeto brasileiro, como a condenação ao que chamou de “terrorismo bárbaro”, mas argumentou sobre a necessidade dos países reconhecerem explicitamente o “imperativo dos Estados de se defenderem”, em referência ao ataque terrorista cometido pelo grupo contra o território israelense no dia 7 de outubro.
"Bebês crivados de balas, jovens caçados e mortos a tiros, pessoas decapitadas, famílias queimadas vivas, entes executados na frente de seus familiares, pessoas levadas como reféns para Gaza. Temos que perguntar - e é preciso perguntar: onde está a revolta? Onde está a rejeição? Onde está a condenação explícita desses horrores?" disse, acrescentando: "Israel tem o direito legal e a obrigação de se defender".
A resolução americana contempla também a proteção de civis. O secretário afirmou que a “forma como a defesa será feita, importa”, assinalando que palestinos não são representados pelo Hamas — que controla o enclave desde 2007 — e que eles não têm culpa dos atos terroristas praticados pelo grupo, devendo ser “protegidos”. Blinken também defendeu a entrada de ajuda humanitária em Gaza (cerca de 50 comboios já chegaram) e afirmou que pausas humanitárias devem ser consideradas, mas não mencionou um cessar-fogo. Nesta terça-feira, a Casa Branca insistiu que uma trégua do conflito “só beneficia o Hamas”.
Blinken também lamentou a morte de civis, incluindo os 35 funcionários da ONU mortos em Gaza, desde o início do conflito. A guerra já soma mais de 6,4 mil mortes dos dois lados. O secretário também reforçou o pedido de soltura dos reféns. Disse estar “grato” pelas quatro pessoas libertadas — duas idosas, nesta segunda-feira, e outras duas mulheres, mãe e filha, na sexta-feira —, mas lembrou que há “ainda 200 pessoas sob domínio do Hamas”.
"Nenhum de nós pode imaginar o pesadelo que [as famílias] estão vivendo. Os reféns precisam ser soltos imediatamente" disse.
Como terceiro ponto, Blinken afirmou que não deseja o alastramento do conflito para outras regiões e afirmou que os Estados Unidos não irão aceitar a abertura de qualquer outra frente de batalha na guerra. Atualmente, Israel mantém soldados no sul do país, próximo à Gaza, onde combate o Hamas, e no norte, contra ataques vindos do grupo xiita libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã. O país financia diversas milícias por procuração no Oriente Médio e foi acusado pelo secretário de “facilitar ativamente” ataques a bases americanas na região.
Quanto a isso, Blinken alertou ao país que responderão "de forma decisiva" a qualquer ofensiva:
"Os Estados Unidos não buscam um conflito com o Irã. Não queremos que esta guerra se expanda. Mas se o Irã ou os seus intermediários atacarem pessoal americano em qualquer lugar, não se enganem. Defenderemos o nosso povo, defenderemos a nossa segurança, de forma rápida e decisiva".
Debates acalorados
A sessão foi marcada por debates acalorados, protagonizados pelos ministros das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e de Israel. O pivô teria sido a fala de abertura do secretário-geral da ONU, António Guterres, que afirmou estar “preocupado com a clara violação do direito humanitário internacional” presenciado em Gaza e exigiu um cessar-fogo “imediato”.
Em um discurso incisivo, Guterres condenou o ataque terrorista “terrível e sem precedentes” do Hamas e defendeu que, assim como os 56 anos “de ocupação sufocante” não justificam os ataques contra Israel, as ações do grupo terrorista “não justificam a punição coletiva do povo palestino”.
"Nenhuma das partes em um conflito está acima do direito humanitário internacional. Mesmo a guerra tem leis" denunciou, lamentando as mortes de civis e de seus colegas da agência.
O chefe da agência reforçou também que a população de Gaza precisa de suprimentos contínuos e alertou para o fim do combustível no enclave. No acordo de quinta passada, Israel e EUA afirmaram que deixariam passar “alimentos, água e medicamentos para a população civil”, mas não mencionaram combustível, necessário para manter os geradores dos hospitais e as usinas de dessalinização funcionando. Poucas horas depois, a Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados da Palestina (UNRWA) informou que irá interromper suas ações nesta quarta-feira (25) se não receber combustível urgentemente.
A fala provocou a revolta do ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen. “Em que mundo você vive?”, questionou o chanceler, afirmando em seguida que “definitivamente não é o nosso” ao lembrar dos horrores vividos por israelenses durante o ataque.
"Famílias desaparecendo no meio do dia, uma grande vala fumegando com vapor de sangue, mães gritando por seus filhos em vão. Eu tenho que lembrá-lo e nunca deixá-lo esquecer" afirmou, acrescentando que o dia 7 de outubro será lembrado na história como “nada menos que um brutal massacre” e um chamado aos países “contra o extremismo e o terror”.
Cohen também afirmou que o Hamas “são os novos nazistas” e defendeu que, assim como a união do mundo civil derrotou o nazismo na Segunda Guerra Mundial (1939-45), assim também deveria ser para acabar com o grupo terrorista.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, também manifestou sua indignação com a fala de Guterres. Em uma rede social, Erdan pediu a renúncia do secretário-geral, afirmando que o chefe da organização global não está apto para continuar liderando as Nações Unidas.
Apesar da solidariedade aos palestinos, a fala do secretário-geral também não foi celebrada pelo chanceler Riyad al-Maliki. Durante seu discurso, o ministro das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina (ANP) lamentou a inação do Conselho de Segurança para interromper os "massacres" em Gaza por parte de Israel e afirmou que “o fracasso contínuo neste conselho é imperdoável”.
Al-Maliki denunciou os ataques "deliberadamente, sistematicamente e selvagemente perpetrados por Israel" e afirmou que o Conselho de Segurança “tem o dever de detê-los”. O chanceler afirmou que a maior parte dos mortos em bombardeios são civis — segundo o Ministério de Saúde do enclave, pelo menos 70% das vítimas fatais são menores, mulheres e idosos — e pediu o fim “do derramamento de sangue”.
"Cerca de 2 milhões de palestinos estão na missão de sobreviverem todos os dias, todas as noites. Nas duas últimas semanas, mais de 5,7 mil palestinos foram mortos, entre eles, 2.003 crianças e 1.003 mulheres" afirmou, acrescentando: "Mais injustiça e mais morte não irão tornar Israel mais seguro. Nenhuma arma, nenhuma aliança trará segurança para eles. Apenas a paz irá: paz com a Palestina e o seu povo".
Al-Maliki questionou sobre a empatia e solidariedade pelos palestinos e defendeu que, se tais expressões forem genuínas, “não poderão vir acompanhadas de desculpas para assassinatos”.
Por sua vez, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusou o Conselho de "agravar a crise" em Gaza devido à sua atitude “tendenciosa”. Erdogan, através de um comunicado, acusou a comunidade internacional de "não se opor aos ataques ilegais e desenfreados do regime israelenses".
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