O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontou que a principal causa do apagão registrado em 15 de agosto foi uma falha no funcionamento de equipamentos de controle de tensão de usinas eólicas e solares da Linha de Transmissão Quixadá-Fortaleza II, no Ceará. A informação consta da minuta do relatório de análise de perturbação (RAP).
Segundo a minuta, esses equipamentos deveriam compensar automaticamente a queda de tensão decorrente da abertura da linha de transmissão, porém o desempenho no momento da ocorrência ficou aquém do previsto nos modelos matemáticos fornecidos pelos agentes e testados em simulações pelo ONS.
“A análise da perturbação permitiu constatar que o desempenho dos controles em campo, de usinas eólicas e solares, em especial no que tange à capacidade de suporte dinâmico de potência reativa, foi muito aquém dos modelos matemáticos fornecidos pelos agentes e representados na base de dados oficial”, afirma o relatório.
O Operador Nacional do Sistema afirma que a diferença nos dados fornecidos tornou “impossível a identificação prévia por parte do ONS do risco de atuação da PPS (Proteção de Perda de Sincronismo) causado pelo colapso de tensão em parte do sistema” depois do desligamento da linha.
A PPS é uma das proteções do sistema elétrico e atua para evitar que o problema se espalhe no sistema interligado. Dessa forma, houve um efeito cascata de desligamento de linhas de transmissão que causou o apagão do dia 15 de agosto, quando 34,5% da demanda de energia elétrica foi interrompida.
Precauções
No documento, constam providências a serem tomadas pelos agentes, assim como para os geradores eólicos e fotovoltaicos . Ao todo, foram centenas de apontamentos que os agentes e o ONS terão de implementar até julho de 2024.
As providências vão desde ajustes em proteções, passando por problemas na comunicação com os agentes no momento da recomposição, até a validação dos modelos matemáticos de todos os geradores eólicos e fotovoltaicos, entre outras.
No RAP também estão elencadas providências que já foram tomadas. Dentre elas, a atualização da base de dados oficial, pelo ONS, com a performance dos parques eólicos e fotovoltaicos da forma como foi observada durante o apagão, de modo a utilizá-la nos estudos de caráter operativo.
O RAP que está em elaboração é um dos mais importantes da nossa história e será fundamental para o aprimoramento do planejamento, da operação, da regulamentação e da integração de novos projetos”, disse Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS.
Ele explicou que agora os agentes do setor irão se manifestar, fazendo suas contribuições no relatório. O texto final será apresentado até 17 de outubro.
Entenda como ocorrreu o apagão
No dia 15 de agosto de 2023, às 8h30, uma ocorrência no Sistema Interligado Nacional (SIN) causou a interrupção de 23.368 MW, do total de 67.507 MW que estavam sendo atendidos no momento, sem contar a parcela atendida por micro e minigeração distribuída, representando aproximadamente 34,5% da carga total daquela hora.
O evento provocou a separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul, Sudeste/Centro-Oeste, com desligamento de linhas de transmissão entre essas regiões, afetando 25 estados e o Distrito Federal.
A recuperação da energia nas regiões Sul e Sudeste ocorreu em cerca de 1 hora; no Nordeste - onde houve queda de cerca de 65,7% da carga - mais de 60% deste volume foram recuperados em três horas; e no Norte, onde houve perda de 99,5% da carga, mais de 90% da carga estava recuperada às 14h30 e integralmente às 14h49.
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