Em mais um capítulo da batalha judicial que marca o processo de recuperação da Americanas, a empresa informou, na noite desta terça-feira, que pediu na Justiça que a Kroll, empresa especializada em investigações corporativas e gerenciamento de riscos, não atue como perita na ação de produção antecipada de provas que o Bradesco move contra a varejista no Tribunal de Justiça de São Paulo. A iniciativa da varejista foi antecipada pela coluna de Lauro Jardim.
A companhia diz que "constatou a existência de elementos que resultam em dúvidas concretas e objetivas no que diz respeito à imparcialidade e neutralidade que deveria marcar a atuação de um perito judicial".
"A Americanas considera que é imprescindível, sobretudo no âmbito de uma controvérsia dessa relevância, que poderá impactar, direta ou indiretamente, na vida de inúmeros funcionários, credores e acionistas, que não exista qualquer resquício de dúvida sobre a imparcialidade do perito judicial. Em razão disso, a Americanas requereu que o processo seja imediatamente suspenso até a adequada apreciação da petição."
No início do ano, o Bradesco entrou com ação no Tribunal de Justiça de São Paulo contra a empresa pedindo a produção antecipada de provas, o que significa ter acesso a documentos da Americanas que possam atestar fraude contábil na empresa. Ao tentar obter acesso a e-mails trocados entre a antiga diretoria da varejista, o banco pediu que a Kroll fizesse a perícia do conteúdo.
O Bradesco é um dos maiores credores da companhia, com R$ 4,7 bilhões a receber. O banco também foi o garantidor de empréstimos concedidos à varejista pelo BNDES.
Na petição protocolada nesta terça-feira, a Americanas aponta sinais de conflito de interesse na participação da Kroll no processo. A varejista cita "a existência de uma parceria concomitante da Kroll e advogados contratados pelo Bradesco em outra demanda de relevância similar."
A varejista também diz, no comunicado, que a Kroll foi contratada pelos credores da rede para atuar na recuperação judicial da empresa, "concomitantemente à sua atuação como perito na ação judicial proposta pelo Bradesco e aponta isso com sinal de conflito de interesse.
"A Americanas solicitou esclarecimentos à Kroll sobre essa contratação, uma vez que também traz dúvidas sobre a sua necessária imparcialidade para exercer a função de perita judicial".
Por fim, a Americanas diz que houve tratamento parcial e "não isonômico", da Kroll ao representante do Bradesco, em reunião presencial em 29 de agosto.
"O assistente-técnico do Bradesco assinalou que havia “combinado” previamente com o perito que faria perguntas diretamente aos colaboradores da Americanas, sem que nada tivesse sido exposto ou avisado anteriormente à Companhia. Tal situação, previamente acordada com apenas uma das partes do processo, além de incomum, também se mostra ilegal, uma vez que o perito deve conferir tratamento igualitário às partes", afirma o comunicado.
Em recuperação judicial desde janeiro, a Americanas tem enfrentado uma série de processos na Justiça de credores. A troca de acusações entre a antiga diretoria, a atual gestão e os credores é citada por fontes a par do processo como um dos fatores que devem levar qualquer votação de um plano de recuperação da companhia para o fim do ano. Até hoje a companhia ainda não publicou o balanço fechado do ano de 2022, considerado um dos fatores cruciais pelos credores para se chegar aos termos de um acordo.
Nesta semana, a varejista já havia refutado na Justiça de São Paulo declarações do ex-CEO da companhia Miguel Gutierrez e do próprio Bradesco. O ex-CEO declarou em carta à CPI da Americanas que se tornou um bode expiatório e queo trio de acionistas de referência da Americanas (Jorge Paulo Lemann, Marcell Teles e Carlos Alberto Sicupira) acompanhava a situação da empresa. E apresentou argumentos similares no processo movido pelo Bradesco contra a varejista.
No texto apresentado à Justiça nesta semana, a varejista afirmou que "o Bradesco vem adotando diversos expedientes jurídicos e midiáticos contra a companhia e contra seus principais acionistas". E diz que as declarações de Gutierrez não têm respaldo na realidade nem provas para embasá-las, mas que são exatamente o que o banco gostaria de ouvir. Desde que a troca de acusações foi revelada, o banco não se manifestou sobre o tema.
Visitas: 235377
Usuários Online: 1