Se o Brasil precisa acelerar a mobilidade social para diminuir desigualdades, uma pequena parte desse ajuste está acontecendo no topo da pirâmide, mostra um estudo inédito do Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), com base nos dados da tradicional lista de bilionários da revista Forbes.
O levantamento mostra que, entre as 95 famílias mais ricas do Brasil em 2022, 46 delas eram “novatas”, ou seja, não estavam na lista há uma década (2013). Entre os exemplos estão os clãs Batista (do grupo controlador da gigante de carnes JBS), Slezynger (da petroquímica Unigel), Krigsner (da fabricante de cosméticos O Boticário), Billi (da farmacêutica Eurofarma), Hang (da varejista Havan) e Feldman (da empresa de fertilizantes Fertipar).
Segundo o economista Paulo Tafner, diretor-presidente do IMDS, a mobilidade na base da pirâmide é a mais importante. Contudo, esse deslocamento entre os super-ricos também tem relevância porque evidência que há mais espaços de ascensão social nos negócios no país. Propicia uma renovação da elite, formando novas lideranças capazes de exercer influência nos processos produtivos e na política, com menor dependência dos governos, diz:
Uma mobilidade na base da pirâmide e uma renovação permanente da elite torna a sociedade mais dinâmica e competitiva.
Conheça o top 15 da lista de bilionários da Forbes
Saltos mais altos em pouco tempo
Na China, o país com maior mobilidade no andar de cima, 62 famílias bilionárias entraram para esse seleto grupo em 2022. Na Índia, foram 33 entrantes, e nos Estados Unidos, 35.
O estudo mostra que, em economias emergentes como Brasil e Índia, os ricos conseguem saltos mais altos e rápidos, acumulam em pouco tempo fortunas capazes de fazê-los ingressar na lista de bilionários já pela metade mais alta, entre as posições 32 e 48. Já na China e nos EUA, as duas maiores economias do mundo, a entrada se dá mais ao final da lista, entre as posições 63 e 70.
A metodologia da Forbes para calcular a riqueza abrange vários ativos, como participações em empresas de capital aberto e fechado, imóveis, aviões, fazendas, joias. Também considera dívidas e doações filantrópicas. A pesquisa do IMDS optou por comparar o Brasil com os EUA, por ser um país desenvolvido, e China e Índia por serem países emergentes com grande desigualdade social.
Segundo Tafner, o estudo mostrou alta mobilidade entre os super-ricos no Brasil, o segundo país que mais registra movimentação nas posições da lista da Forbes de um ano para o outro. Somente a China tem movimentação maior.
Em uma década, houve renovação de quase metade das famílias bilionárias no Brasil, apesar do baixo desempenho da economia nesse período, o que é positivo, na avaliação dele. É um sinal de que a economia brasileira abre novas oportunidades de negócios e investimentos, frisa o economista.
Menor concentração no andar de cima
O Brasil se destaca como o único país em que a concentração de riqueza entre os bilionários se reduziu nos últimos anos. Em 2013, as cinco famílias mais ricas da lista detinham 35% da riqueza total do ranking brasileiro. Em 2022, o índice caiu para 25%.
De acordo com a pesquisa, o perfil dos novos super-ricos brasileiros é jovem e inovador. São pessoas com curso superior, ligadas sobretudo a setores de tecnologia e comércio internacional, que queimam etapas na acumulação de patrimônio.
"Eles dão um salto alto logo no ingresso no grupo dos mais ricos e acumulam fortunas muito rapidamente com a descoberta de novos nichos de mercado" descreve Tafner.
O fato de o Brasil ser uma economia em desenvolvimento favorece esse processo, diz Tafner. A geração de novos ricos na China está diretamente ligada ao seu crescimento acelerado nos últimos anos. Nos EUA, a concentração de alto patrimônio é mais antiga e consolidada, os novos entrantes começam na parte de baixo da lista. O país tem a menor mobilidade no ranking a cada ano.
Por outro lado, assim como em outros países, as sucessões dentro das famílias mais ricas também influenciam a composição da elite brasileira. Há os casos de novos entrantes cuja origem da fortuna é a herança.
Um dos exemplos recentes é o da família Safra. Com a morte do fundador do Banco Safra, Joseph Safra, em 2020, seu patrimônio dividido entre os filhos e a viúva, Vicky Safra, levou cada um deles ao topo do ranking de bilionários brasileiros.
Vicky é atualmente considerada a pessoa mais rica do Brasil. Em 2023, ela ultrapassou Eduardo Saverin (cofundador do Facebook) e Jorge Paulo Lemann (sócio de empresas como Americanas e Ambev), com um patrimônio estimado de mais de US$ 87 bilhões.
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